quinta-feira

III - Abundesmação

Rolos de fita adesiva. Coloram sua cabeça no cabo transmissor. Lembra daquele cara sexy e espertão no programa legal da rede pública? Vai ser protagonista da próxima minissérie. A última porca espanou, gato. Mas até santo ficando velho mostra tirania de levinho. De grossinho também. E por aí vai e rasga, não? Rasga.
Mas aviso, na tevê é mesmo colorido. Só que a tevê é todo dia. E nada é colorido sempre. Colôr adulterada. Imagina, se até remédio falsificam, o que diria das cores da graça das coisas? Tudo plástico, ritualístico e automático.
Bom, já eu, sou historiadora, historiadora e modelo atriz poetinha cineasta. Isso é um furor. Minha mãe sempre disse que era pra eu me cuidar. Se não iam fazer comigo o que fizeram com a Xuxa: tudo começa bem minha filha: te pôem pra fazer filme pornô, depois de dão um idiota rico pra namorar. Mas depois é um horror, você vira referência de marcas de cereais e tem que tomar café todo dia pra todo mundo ver do lado de um monte de criancinha cheirosa. Isso é um perigo. É impossível sobreviver.
Aí eu me cuido, né? Sabendo que as coisas são dialéticas, pensei em ir trabalhar primeiro com as crianças para saber se o inverso era verdadeiro. Começando com brincadeiras e sorteio de ipods florescentes quem sabe eu não terminaria nesses filmes pansexuais ótimos da Noruega? Ou escrevendo para Editora Vozes, o que também não é um futuro a se negar. Os grandes medos são desejos razoáveis: Imagina: Revista Eclesiástica Brasileira. Quase modesto e sincero quanto os filmes com salmão de que falei.
Mas aí descobri que a dialética só funcionou até os anos 60. Fiquei desesperada. Caceta. O que houve é que agora é tudo na base nas multideduções unilaterais partidas no estômago do Mickey Mouse. Me aliei, ou é assim ou, credo, cereais, né? Então, viajo pelo interior, levo vacina contra Amor Demais. Doença que ainda vai ser inventada. E dá-lhe especulação da indústria Farmacêutica.

4 comentários:

Beatriz disse...

Grande abundesmação. Maravilha de texto, Heyk. Teatro puro. Daria um monólogo e tanto.
Gostei mesmo. Tem estilo.
Beijos todos

Guto Leite disse...

Concordo com a Béa de uma maravilha de texto, poeta. Talvez algo de ressalva na crítica do parágrafo final que poderia estar na mesma toada dos precedentes: ímpar, incisiva, sulfúrica! Arte e revolução, meu caro, é disso que precisamos

Heyk disse...

Aì é que tá a viagem, sem ser cristão eu saquei que o papo do "amai-vos uns aos outros" dava conta de dar conta das coisas todas das quais os efeitos eu aponto nos outros textos.

Aí vai. Mas na verdade, essa é uma série que só tem uma proposta: escrevo direto na caixa do blog, com tempo máximo e tudo. Aì o que sair vai à público. Publico.

Bjo lindos;

Anônimo disse...

tb acho que o último parágrafo teve uma queda de ritmo. Ficou... deu a impressão de que tudo ficou bonzinho! Essa foi a primeira leitura..
Mas gostei! Bem humorado!

crédito do desenho no cabeçalho: dos meses duro, nanquim sobre papel, 2010 Philippe Bacana