O sol não podia mais
comia a gordura rápida
do alto planeta inteiro
uma calculadora praguejava
seus salários que não davam conta
na mesma sombra
onde passarinhos de capuz
limpam um jardim antigo
cavadores se fantasiam
e correm tubos de uma névoa grossa
sob o chão macio
guardas e xamãs
brigam por tabaco
e seus olhos pintados
não veem o ninho de cobre
onde a videira canta seu mantra
pombas marcham sobre a grama
e os piolhos das penas
alimentam o terreno
eles são à prova de seus planos
e fazem desse barro branco
o palanque para seu silêncio
[03/02/2010, jardim da Casa de Rui Barbosa | Rio de Janeiro]
5 comentários:
Boa, Heyk. O devaneio dá espaço aa observação, num movimento de zoom pelas camadas físicas e intencionais dos seres vivos - e dos que ganham vida pelo verbo.
O resultado é imagem feita de palavra simples e suave.
Gosto muito do último verso, e da penúltima estrofe toda. Tem uma rede difícil nessa última que reprime a microleitura e te empurra pra a leitura universal. Há um ambiente simbólico entrópico, como uma torre de babel - uma nova proposta imagética a cada verso.
Fico um pouco perplexo. Não sei se na oferta de uma Possibilidade eventual existe a provocação dos sentidos (contemplação). Aliás, desconfio que confia muito no recurso. :)
C'est ça, mon cheri.
Abração.
...
Ah, e ("é óbvio que"?) a meia dúzia que lê também escreve poesia, já que na prática - dentro desse nosso ambiente virtual - não há a dicotomia entre leitores e escritores de poesia. Afinal, faz-se poesia no ato da leitura, assim como há contemplação no ato criativo.
belo texto, moço! Marcadamente teu. Acho que seria capaz de identificar teus traços de longe, em qualquer lugar. São tão seus.
Ah, e há espaço pra poesia nas minhas tentativas prosaicas dialógicas...Nova fase, talvez,cadê teu olhar por lá?!
beijos,
Tava vendo o logo antigo do Zinabre no seu blogroll ali do ladinho. Mó retrô.
Nossa revista já tem logo com cara de logo retrô.
Cacete.
gostei.
é rapaz: a ideia da leitura universal, fui obrigado a olhar com bons olhos. Quando se torna universal e que passa a ter trânsito livre, passa a circular mais nas mãos nos universais.
sabe, confio mesmo nas transfigurações do cotidiano que uso, observo e invento para propor sensações e imagens, e sons e ritmo.
Vejo coisas normais na rua, e absurdas também. E aí as reconfiguro, estabeleço relações em acontecimentos não relacionados por si mesmos, e atribuo caracteres fantásticos a movimentos banais. E faço isso porque os vejo, porque fantasio o dia. Contemplo e me encanto com as imagens possíveis na ocasião casual.
E o transbordamento de imagens, a video arte em poema, essa já faço faz tempo.
O que tenho conseguido fazer agora, é trazê-las com um vacabulário comunicável, e entortar neologismos só em casos os é possível enxergá-los.
Tenho facilitado a leitura, e abusado da imagem.
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