Eu vi os meus dez mil pares
Magros de rosto cortado à gilete
Meninas que ainda não entendiam a moda
Desistirem de si para se apegar a similares
Como deus a esquerda o salário e a sobreposição em porto alegre
Aprender foi transformado em gabaritar o vestibular
.
em salas de gnus de chifres jovens e caras bicolores
enfileirados em escala sócio-econômica
decidindo a vida entre exatas humanas e biológicas
para correrem anos depois
se dando mordidas e descolando ferraduras
agarrados a pastas de couro humano
com documentos de importância média e prazer nenhum
namoradas engravidaram se converteram se multissexualizaram
voltaram para os ex- e para os atuais de amigos amigas e familiares
amigos caíram de moto e choraram
em postos de gasolina do interior de são paulo
compraram mp3 players veiculares antes de dar entrada nos carros
o mesmo aconteceu com capacetes e tinta para rodas
Vi a entrega de corpos semidescobertos por completo
à neuroses consumistas campo de futebol hq e rpg
começos de mês eram rituais macabros de compras exorbitantes
em lojas agiotas para classes populares e inebriadas
piercings sendo expelidos de sobrancelhas umbigos e orelhas
a música eletrônica chega junto com vodka e fanta laranja
e joelhos roxos de bater copos com sprite e cachaça
em bares de rock caipira
enquanto a luta de classe se acentuava via
roupas das mesmas marcas
em lados diferentes da rotatória
originais versus falsas
tapas e tiros resolveram etapas do conflito
vi atletas do álcool atletas do punk atletas do sertanejo
200 pessoas em uma lista de 220
online em tempos de icq numa madrugada de 2000
a internet virou moeda de troca de afagos
vivi fotos proibidas e recebi telefonemas à falsete
pela janela dos bate papos
os computadores se inseriram bem perto do racio
confusões e intrigas cibernéticas só partiram para o cara a cara
quando a resolução se dava na agressão física
a parte erótica não saiu das máquinas
estamos cada vez mais perto
da acoplação total aos fios ou a rede sem cabo
heróis e canalhas nasceram e morreram
nas comunidades do orkut
vi os mesmos meninos e senhoritas
correrem paras as ruas sedentos de corpos
e não conseguirem se aproximar pela falta de teclados
bebidas e outros torpos se juntaram a ritmos delirantes
para forjar o toque com danças sensuais
os elétricos os eletrônicos os baianos os do pará
.
um suor de salões e cigarros
foi substituído pelo suor nu
e transas progressivamente mais nervosas
rápidas de olhos parados e mãos fechadas
executadas nos corredores banheiros e mesaninos
de boates adolescentes
vi a cocaína ter apelido de parente em repúblicas estudantis
os solventes fluidos cogumelos frutas amargas e maconha
serem o único ente socializante em festas universitárias
.clãs leis ordas e punições auto aplicáveis
socos e mordidas
como chimpanzés da presença de um leão
foram derramados por filósofos sociólogos e pedagogos
toquei a era das doenças tomando injeções da bunda
e transando sem camisinha em tempos de fantasmas efervescentes
o medo da aids e do feto e da mãe juntos
intercalados por gemidos e lambidas
violência armas gritos sangue chutes segregação términos
o estupro externo interno
vi rodas correrem em ruas desertas nas noites de Baco
de um recanto acadêmico-industrial
sem nunca mais recuperar minhas almas
jovens amando tudo menos o amor
enganando o engano
e empurrei carros alegóricos em ruas antigas
para aliviar o nosso sangue
me vi indo para qualquer lugar à dedo na estrada
de calça apertada e óculos escuros
convites sem endereço
tive olhares sexys buscando notas e ingressos
em bolsos de camisa e saia na noite
a perda da ternura vezes 40
e trocas de chupadas para leitura de currículos
rolos de filme boas entrevistas e números de telefone
o medo de tudo e o racismo das noites cariocas
o medo do preto o medo do ônibus do bairro do preto
o medo dos garotos gostosos armados
minha geração quer casar cheirando
temendo a velhice
velha sozinha
andarilhos dos bares da lapa trocando mentiras
por nomes cervejas e trepadas
a inquietude do mesmo medo da solidão
em jovens de condomínio
de classe média
cangalhas pseudointelectuais se desesperando
na arquitetura de novos planos
se o bar a casas dos amigos a própria casa a boate
não enchesse
vi chamarem de açougue os pontos de encontro
carne fresca rija e quente no cardápio
poetas esmolaram atrás de reconhecimento
poetas da autarquia camelodramática
venderem poesia moribunda com a falácia do telemarketing
vi a arte rachar a cara
nos olhos dos artistas o brilho por leis
que incentivem qualquer coisa
a arte o medo o sexo murcho
a internet e academia roeram cérebros
e carteiras com a soda caótica
dos torpos tropos
as tropas do maravilhamento
a negação da negação do sucesso
e fileiras inteiras trocaram qualquer coisa
por sensações imediatas
e que fizessem esquecer
vi a preguiça e os olhos de cobiça dela
vi os junkies os amantes católicos
cibernéticos
e falsos
os cheiradores de magia
os jogadores de sinuca
os coitados sem coito
as delícias multicoloridas
a perversão a subversão a aversão do tesão
o calor da pressão da violência
que a praia calada tem
vi muitos de nós morrendo antes de um nascimento sequer
não somos modernistas nem a tropicália
mas foi tentando falar latim
que os ibéricos inventaram o português e o espanhol
vi tantos dos meus se calarem
atrás de modelos pré-fabricados da indústria cultural
a indústria cultural é
só mais um braço da indústria indústria
e nivelados por dentro podemos
fazer extravagâncias externas
sem derrubar nenhuma bolsa do planeta
os seriados de tevê tem um cara de cada cor
e um de cada tribo
vi todos voltarem como nós
para suas vidas iguais dentro de casas com cozinhas planejadas
com parcelas à pagar
a música pop fez trilhas individuais nas calçadas da cidade
com as mesmas faixas em ordem diferente
nos ouvidos de todos
vi sobrevivências de práticas alternativas
onde o jogo interno era o mesmo que se joga
no lado de fora pop
micro esfacelamentos na briga pelo poder
macro anestesias na jugular do século
alegrias fulminantes e tristezas passageiras
abandonando a todos antes de qualquer atitude concreta
vi isolamento e angústia diante
da tecno-tragédia
11 comentários:
Teus 21 anos te renderam um tanto, hein...
Sem troca de afagos, um "feliz aniversário"...
é mesmo a história das nossas vidas.
gostei das passagens porto alegrenses, entre repúblicas e drogas como nome de amigo.
Cara, é lindo e fortíssimo. É bom porque me faz sentir.
O formato poético é qualquer coisa, e eu acho que podia ser melhor, nego.
Bêjo prucê, Heyk.
fala ai heyk, so agora vi o teu comentario la no blog...no ciudadbasura.blogspot.com
eu nao tinha lido antes porque esse è meu blog antigo que eu achava que estava desativado, o meu novo blog se chama raphaelvizeu.blogspot.com.
simclaro, posso te mandar um texto em portugues para o mana zinabre
fala ai heyk, so agora vi o teu comentario la no blog...no ciudadbasura.blogspot.com
eu nao tinha lido antes porque esse è meu blog antigo que eu achava que estava desativado, o meu novo blog se chama raphaelvizeu.blogspot.com.
simclaro, posso te mandar um texto em portugues para o mana zinabre
Cara, gostei mesmo desse poema...
a forma, a freagmentação do conteúdo... os comentários irônicos sobre os costumes juvenis, as visões... muito bens costuradas...
Do caralho mesmo, Heyk!
Abraço
heyk!
foi seu aniversário? rsrsrsr como nunca sei como estar nestas horas de parabenizar os outros por mais um minuto d vida sobre essa terra cheia d gente maluca (inclusive vc.. hehehhe), fico com os desaniversários diários d alice no país das maravilhas, q, para mim, são mto mais interessantes... então, feliz desaniversário, hj, agora e pra sempre! hehehe
é isso q dá tanta sociologia... rsrsrrrs ñ sei se é pior permanecer alheio a tudo ou enfrentar tudo com o peito sangue, escorrendo, escorrendo, ateh o pé, ateh o inferno.... e mais o peso d carregar peito, sangue e inferno duma tacada só.... ou seria céu? deus é q sabe! rsrsrsr
sei q a receita é super fácil e para apreendê-la não precisa d mto: as auto imagens nossas se alimentam d erotismo drogas e compras (q no fundo simbolizam uma só coisa); e vc percebeu a receita, aqi. nada escapa da regra.
fico pensando na fragilidade do humano diante dessas coisas: tão facilmente manipulável. e é preciso pensar: ateh q ponto somos vítimas e algozes d nós mesmos e d nossas construções; essa linha ñ é tão fácil d se traçar, é td tão fluído como este tempo d liquidificados, liquidificadores e liquidações... rsrsrsr e, me parece, a criação artística se mostra como a únia maneira de resolver um pouco isso, em função de ser uma parela realidade, transcedência espiritual, transcedência pelo sentimento, pelos sentidos, ñ pela razão pura e simplesmente e talz...
lembro d uma canção do bob marley:
"você poderia amar e ser amado?
não deixe eles te fazerem de bobo
ou mesmo tentar escolarizar você
não!
você tem a sua própria mente
então vá para o inferno se o que você está pensando não é certo
o amor nunca nos deixaria sozinhos
na escuridão deverá aparecer a luz
(...)
não deixe mudarem você
ou mesmo rearranjá-lo
não!
você tem uma vida pra viver
eles dizem somente
que somente o mais ajustado dos mais ajustados deve viver,
permanecer vivo.
(...)
você poderia ser amar
e ser amado ?
diga alguma coisa ..."
então é assim q falo da trascendência... ouvir uma canção destas e entender o peso d luz q ela carrega... pena q nem todo mudo no brasil saca o inglês. nas favelas todas em q morei ateh os 14 anos lá em maceió, o pessoal ouvia mto bob marley... mas eles ñ enetendem o inglês....
enfim... adorei o poema, me fez lembrar d coisas boas, dos tempos em q morava nos subúrbios lá em maceió (foi lá q aprendi a ser gente, e ninguém, felizmente, me tira isso), desta canção, e d coisas ñ tão boas, é claro.
um bjão, ateh!
putz! um ano e meio d faculdade pra esqecer das referêcnias (parece q tah dificil o enquadramento, mas q bom! hahaha): a canção é d bob marley, "could you be loved", o nome dela! rsrsrsrsr
bjo mais!
té!
Heyk, querido... esse é forte, hein? Sério mesmo... eu procurando ver uma saúde nessa demanda por ensaio de "la vie de toujours" da meninada erotizada, consumista e drogada (até um vocábulozinho bonito tipo catarse eu ando usando pra tentar entender esse baseadinho de canto de boca )e você me vem com essa ducha fria? Brecht, sai desse corpo que não te pertence... rsrs. Broma, lindo!!! Você sabe que senso crítico é muito importante... te endosso e tudo, mas vou procurando imagens mais etéreas nesse ópio de todo dia, uma imagem que some no ar feito o tempo some quando se tem de trabalhar todo dia, pagar as contas, olhar pra frente e não poder comprar a bunda que se vende na televisão -- que não é rachada como a nossa... aí vai a pinga mesmo... como ver nisso erro, como ver erro na menininha triste que tem três mil quinhentos e dois sapatos? Eu tô buscando ver os erros e os acertos... porra! Você me perturba, cara... logo a gente se vê pessoalmente. (Deve de ter sentido essa merda toda!) Isso é bom!
gente, eu adorei os comentos. Acho que essa é a primeira vez que escrevo um comentário nesse blog. Mas é porque o anômino, que gostei muito aí, não se identificou então não tem como escrever respondendo-o.
Então lá vai: Só fiquei contente mesmo, de ter uns amigos lindos perto lendo as barbaridades que eu reclamo. Gostei. E gosto mesmo é de viver. Mas como a vida tá hard core tô escrevendo pra sentir.
Fiquem todos bem. Segunda eu posto uma troço novo.
Adoro esse poema, a fibra. Fiz ele pra ser, pretensioso que só a mãe, o meu Uivo. E é isso.
Os próximos que viram talvez não sejam tão delatórios assim, mas serão do mesmo autor que arde nesse Rio filha da puta.
bjos e carinhos
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