sexta-feira

Escritor, ladrão e assassino.

O trecho que segue é de entrevista inédita de Silviano Santiago [escritor e crítico literário brasileiro] a Frederico Coelho e Sergio Cohn há uns 15 dias para o volume da Coleção Encontros, da Azougue Editorial dedicada ao Silviano, que foi bastião do anticaretismo da crítica desde os anos 1960 e inaugura vários troncos de estudo para as letras no Brasil, como o estudo de manifestos, correspondência e autobiografias.
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[Frederico Coelho] Vivemos o período do escritor celebridade, que é alçado a esse posto rapidamente não por ser célebre, mas porque, vou dar um exemplo aqui concreto, um nome, João Paulo Cuenca que é um escritor jovem que de repente já está escrevendo em coleções, não vamos discutir aqui a sua qualidade, ele tem uma coluna numa revista voltada para um público adolescente n’O Globo, que é uma revista de forte circulação e pronto, e já virou, já se estabeleceu.
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[Sergio Cohn] O Daniel Galera que ganha seu prêmios...
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[Silviano Santiago] Gente, isso não é celebridade, quem conhece essas pessoas? Ninguém. O Cuenca talvez um pouco porque ele está entrando na televisão, naquele programa ali, talvez por estar entrando ali. Mas ali entra de maneira tão...
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[Frederico] O cara escreve na revista, é célebre pro público adolescente, mas o livro dele não vende.
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[Silviano Santiago] Eu acho que é um processo, eu já tentei explicar dessa forma, não sei se está certo ou não, a partir da década de 1990 o escritor brasileiro quer se profissionalizar, ele quer viver daquilo que ele sabe fazer, que é escrever. Esse processo de profissionalização a meu ver é complicado, porque o livro não vende no Brasil. Como você pode se profissionalizar a partir de uma coisa que não é passível de ser comercializada. O Paulo Coelho, beleza, ele se profissionaliza a partir de um objeto, o livro dele específico, que é comercializado. Então o Paulo Coelho a meu ver é um escritor profissional, e é o único escritor profissional no Brasil como foram Érico Veríssimo e Jorge Amado e que eu saiba ninguém mais. Talvez alguns secundários, Meu pé de laranja lima...
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Minha questão é a que ficou clara, como se vira o escritor e qual é a pergunta que quem está pensando a literatura colada com a vida tem que se fazer? O título do pouste é só um chute sobre carreiras paralelas.

2 comentários:

Guto Leite disse...

Ia fazer a clássica piadinha que o escritor se vira se virando (aliás, até conheço tristemente um caso), mas este assunto é grave demais pra mim para que eu tenha mau gosto! Não há profissão escritor no Brasil. <- (ponto) Pra não ser radical, há duas dúzias de roteiristas por profissão, uma dúzia de dramaturgos em televisão e cinema, uma mão cheia de romancistas e, até hoje, não sei de nenhum que viva de poesia. Embora digam menos do que as palavras e sejam mais vagos, rs..., não há como negar os números nestas horas...

Rachel Souza disse...

A escrita vira atividade diletante e a atividade "séria", a que paga as contas e os absorventes internos da vida,se faz maior. Até que o sujeito faça um filho no editor da Cosac Naify e viva de literatura...

crédito do desenho no cabeçalho: dos meses duro, nanquim sobre papel, 2010 Philippe Bacana