quarta-feira

post nº 100 | relatos e pensares

Meus caros, a continuidade é justa. Não mais nem menos que a ruptura. Esse é o post número 100 do blog Entre águas, que foi antes Beijo de sal (inclusive no endereço). Aqui, foi um primeiro estribilho de um caminho mais só. Um blog solo, pra rimar com todas as outras coisas que os tempos exigem: solidão, disciplina e velocidade. Antes, a partir de 2005 tive o Orden huera, que era ponto zip ponto net, e tirando esse do ar, fiz com Victor Meira, Alben Oliveira, Carina Bentlin, Philippe Bacana, o Maná Zinabre, já blogspot já com intuitos mais abrangentes. Saía a vontade de ser lido por gente por aí aos miúdos e entrava uma vontade mais teleológica, de organizar o carnaval e inaugurar um monumento. Trabalhar junto é um drama, o sabe quem faz coisas junto fora das obrigações, quem toca utopias junto sabe. Trabalhar junto é um drama. Vide as bandas, as cias de teatro, o incipiente mundo dos coletivos artísticos, tudo solúvel como os tempos.
O Beijo de sal, primeiro nome do Entre águas foi uma primeira desilusão com o universo da criação conjunta e uma queda na investigação interna que é possível fazer dentro do poema, de si também. Com influência de Roberto Piva, Sergio Cohn, Afonso Henriques Neto, José Agripino de Paula, Willian Bourroughs, Oswald de Andrade, a primeira série que o blog recebeu (onde os textos eram classificados como de beijo, ou de sal) foi o que se tornou o livro lagarta, ainda inédito, talvez pra sempre. Que invadia os leitores com cores e sentidos outros, algo de cinza que permeava todo o contexto da obra, uma busca de interlocutores, como disse o Renato Rezende, mas mais do que isso, uma busca por formas de falar e olhar, por linguagem.
Desde que essa primeira série terminou, e que o blog mudou de nome, a série que mais teve poemas foi a série poema simples, uma tentativa de saída do hermetismo em que havia me lançado, não só nele, sabendo que além de universos outros, um pouco de cinelândia, copacabana e de miséria sempre me texturizaram. Daí saíram os primeiros poemas curtos, influência de Giovani Baffo, os poemas extremamente sonoros e rítmicos, influência de algum Cabral e muito Gullar, como a série noiva morta (encomenda feita por Bacana, para instalação que nunca foi executada), o poema tumulto, encomenda de Alê Souto. Durante o ano de 2009, depois da grande parcela de poesia em que o blog se fazia, Entre águas passa a ter mais cara de blog mesmo, com propaganda de eventos amigos e bons, pequenas reflexões sobre questões cotidianas e ou teóricas.
2010 pra mim ainda é uma dúvida, há algumas questões a serem trabalhadas, a da recursividade e a da autopoiese têm me atraído. Os últimos poemas, autopoiese, e calma, tem a ver com isso. Ainda acho que a série mais bem feita foi lagarta, e ainda acho que um novo original ainda não é possível. Mas acho também que esses percalços passam. E de resto, pensar sobre esse campo de prata que é a internet, essa prata de campo que é o poema, e tentar entre imagens e sons fantásticos, dizer algo de fato.

3 comentários:

Guto Leite disse...

Parabéns pelo montante, meu caro poeta! Mais, parabéns pela lucidez com que busca se olhar sempre. Com ela deixamos de simplesmente contar, como máquinas, para duvidar do exato, como poetas! Grande abraço e força para mais muitos!

Rachel Souza disse...

Por que essa de "livro que não alcançará a posteridade"? Olha, livros, quadros, qq obra autoral são, também, retratos de nossos momentos como ser e como criador-agricultor. Acho que as coisas precisam ser maturadas e, antes de qualquer outro, passar pelo nosso próprio crivo, mas não fique nessa edição eterna. Romantismo? Senso crítico extremo? Auto-sabotagem? Sabe,tenho estado com meu editor interno ligadíssimo até na hora de criar. Tá uma merda e já tô no movimento pra perdê-lo...
De resto gostei. Trabalhar junto na utopia é complicado,sei bem. Isso aqui realmente tá menos hermético,ainda que com o mesmo ritmo.Quanto à internet... A bicha é maravilhosa mesmo. Há de se ter cuidado e ciência de que surgem pérolas e pessoas ótimas e coisas duvidosas e pessoas rancorosas e desinformadas. Teno usado a internet- Yemanjá, aquela que aceita o que é mel e cospe fora as oferendas bad trip.rs
Beijo.

tomazmusso disse...

inédito para sempre é ótimo...
fazer um balanço é sempre bom, mostrar isso é melhor, processo escancarado.
continuo me autopoiesisando por aqui, só não faço críticas prq sempre acho q a poesia é sem estribeiras(embora ache q vc discorde), e não consigo situá-la fora do gosto, do meu. simplísticamente, Bongiorno!
Abraço! caro amigo.

crédito do desenho no cabeçalho: dos meses duro, nanquim sobre papel, 2010 Philippe Bacana