domingo

Edifício


ninguém sabe
qual foi a altura dos tombos

a poeira
pui a pele

de pelo em pelo
as fibras pifam
os tecidos ficarão finos e imprestáveis

a cada inspiração
engolimos a fuligem que somos
a penugem que escapa às colchas e roupas
o carvão que o céu emana e deposita

um pedaço de tudo que existe
estocado
em nossos pulmões e paredes e couro

não o pó que recebe o sopro

mas o pó que com saliva
se faz usina e matéria
de todo mel e ferro
de que somos filhos

e para sempre prenhes

poema parte da vídeo instalação Entranhar de Juliette Yu- Ming

Um comentário:

Victor Meira disse...

Não sei, mano acho que não. Gosto mais de Sarah. E acho que por razões muito fundamentais, como pelo fato de estar falando "dela" ao invés "do que somos", como Edifício. Edifício tem fala mais acessível, é menos hermético portanto. Mas acho que Sarah pode terminar muito melhor. Não gosto do último verso. O "tortas" meio que sobrou. Seria melhor até "o mundo num colar de pérolas", mas não sei se é isso. Sei que enxuto o verso resplandece.

crédito do desenho no cabeçalho: dos meses duro, nanquim sobre papel, 2010 Philippe Bacana