quarta-feira

Urologista 26/11, 13:40 – Hospital de Acari

Banda corrida até a UERJ, por dentro, metrô maracanã, de pé, beleza, não tem recarga do rio card, sentido pavuna, luzinhas piscando nas setinhas até a fazenda botafogo. Desço. Dá pra ver o hospital de dentro da estação. Na frente, nos trêileres, três caras do core, de preto, monstruosamente musculosos, monstruosamente tudo, de armadura, fuzil, tudo. Na frente do hospital muita gente, um silêncio esquisito, um monte de carros da polícia civil. 

Clínica da família, ao lado a entrada do hospital. Subo as escadas ouvindo: isso mesmo, passa reto, nem olha, olha lá, fez igual eu falei. Eram uns dez adolescentes perto do portão, esperavam. No hall, muitos policiais, caras sem uniformes, mas policiais também, cara de gárgula pra quem entrasse. Resolvi passar. Os distintivos, os funcionários com cara de protocolo. A recepcionista: direita, direita, identidade na mão, primeira porta de vidro, balcão de confirmação. 

Saio, mais carros da polícia e reportagem. Contorno, acho o balcão. A balconista: o médico atrasou muito, estamos remarcando, sai por essa porta, passa a outra porta de vidro, a lanchonete, entra na porta marcação de consulta. Saio, vejo as pessoas agora como se esperassem um pronunciamento, na porta, se apertando. Os meninos do portão também estavam lá. Me olharam, caminhei em direção a eles. Que houve? Mataram uma menina. Aqui? Aqui, na nossa favela, aqui atrás. Foi tiroteio? Foi, mas quem matou foi a polícia. Nunca vi fuzil assim de monte no hospital. É, sorriu, parece Afeganistão. Tio, dá um guaranazinho. Eu, será? Dou não, vim pro médico, ele ficou com medo dos tiros, vou ali remarcar. Todos ficaram, nenhum veio hoje. Valeu, já volto.

Na marcação de consultas cinco moças, um cd evangélico de presente, uma bem magra, batom forte e cabelo loiro encaracolado até o pescoço. Uma só atendia. As outras pensavam, falavam, o arroz estava velho, a mais alta não conseguiu comer. A do batom: identidade, encaminhamento, diferente, bonito seu nome, dia 1/12, 8h, pra você também.

Os dez tavam me esperando quando saí, sorriam porque esperavam. Me juntei. Qual foi? E o guaraná? Sem guaraná, o bagulho tá louco. Tranquilo. Enquanto tu tava lá levaram o corpo. Chegou mais um. Mas tá vivo ainda. Então, como vai ser? Esse monte de polícia vai sair correndo na hora que o bonde chegar. Vai vir? Vão descer. Falaram. Aqui pro hospital? Não sei. Acho que sim. Saquei, vão ficar? Vamo. Vou nessa, segunda eu volto. Valeu, tio. Valeu. Valeu.

Um comentário:

Anônimo disse...

valeu!

crédito do desenho no cabeçalho: dos meses duro, nanquim sobre papel, 2010 Philippe Bacana