quarta-feira

Quem tem medo do amigo fake?


Philippe Dias, 2015.
Não sei por que as pessoas têm tanto medo dos perfis falsos. Ninguém mais se lembra dos bate-papos do Uol, Bol, Mirc, Icq? Ali quase ninguém usava seus nomes, muito menos dizia de onde era, valia mesmo a noção de realidade virtual, éramos cretinos na vida e pessoas misteriosas e espirituosas na rede. Conversei com muita gente por aqui desde os 13 anos e aprendi muita coisa. Chegou um momento em que tivemos que expor nossas vidas completamente, nada podia ser escondido das lentes da máquina. A realidade virtual deixou de ser um mundo paralelo para ser o único mundo. E cá estamos confinados.
Philippe Dias, 2015.
Aí, quando aparece um perfil falso é um alvoroço, quem será Mônica Rosa, me perguntam, quem será Bia Frezza, quem serão cada um desses perfis que de repente nos adicionam, têm pouquíssimos amigos e ninguém nunca ouviu falar? Sim, temos todos um saco de plástico amarrado na cintura cheio de neuroses de segurança dentro. A TV diz, o caixa eletrônico diz: cuidado com quem compartilha suas informações. Mas as empresas adoram nossos dados, nos vendem coisas e dizem sempre: personalize seu perfil, ainda faltam 38 itens para você dizer com mais exatidão às pessoas seu verdadeiro eu. E assim tentam me vender sapatos, barcos, chaveiro 24h.
Talvez Mônicas, Bias, Abelhas, e caras brasileiros com o nome em cirílico estejam olhando com atenção para uma coisa que a rede tinha de interessante, eles estão escondendo um tanto, mostrando um tanto, como mágicos, como stripers comedidos. Talvez queiram deixar visível só um pedaço, um fetiche, construir uma rede específica, literatura, podolatria, relacionamentos mal resolvidos. Talvez eles estejam entendendo que liberdade é outra coisa, e estão botando pra quebrar no mistério e negando ao Big Brother as informações tão caras ao mercado. Ok, talvez sejam psicopatas. Ninguém ficaria surpreso, afinal estamos tão preparados para encontrar um, que achamos monótono quando nossa vida não é invadida por algum deles.

Os desenhos: "O desapego e a saudade são dois búfalos", Philippe Dias, 2015.

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crédito do desenho no cabeçalho: dos meses duro, nanquim sobre papel, 2010 Philippe Bacana