sexta-feira

Pausa pro puxão de orelha II


Continuando com Cildo Meireles, mais uma pra pensarmos. O trecho que segue é de uma entrevista à Tate Modern - Londres, publicada em abril de 2008;

"Quando fui para Nova York, em 1971, já tendo, portando, realizado minhas primeiras Inserções, eu vivia, como já disse, uma “crise rimbaudiana” do tipo: vou abandonar a arte, dedicar-me a outras atividades etc. Mas diante de uma exposição de Matisse no Museu de Arte Moderna, meus olhos umedeceram. Comecei a repensar a importância da arte e da história da arte e a refletir sobre o papel dos museus, passando a encará-los em seu papel democratizador da cultura."





E aí, democratiza, mesmo? Pronunciem-se artistas e museólogos.

21 comentários:

Rachel Souza disse...

Pois é... O fato de as obras estarem no Museu ou lugar que o valha, não é democratizar a arte. Tem um livro escrito por Pierre Bourdieu e Alain Darbel q trata essencialmente disso.

Priscila Andrade Cattoni disse...

Qual é o livro Rachel?

Anônimo disse...

Ha! Chega ser engraçado...É o mesmo papo de sempre, pessoas! O que mais faz a "arte vigente, oficial" que justificar-se com essa coisa "dos museus" e de "seu papel democratizador da cultura"? Ai, ai! Como se esta "arte oficial" se preocupasse com a democratização da arte ou do que quer que seja! Ela é completamente inserida no circuito, nos padrões, no sistema, portanto, agente passivo que finge ser ativo. E mais! Há que se preocupar antes com a qualidade e verdade (terríveis, cruas e mentirosas)das artes ditas plásticas que nos empurram violentamente por todos os lados. Pra fugir disto, não é tão melhor falar sempre as mesmas coisas e fazer os mesmos "trabalhos"? Que lugar comum! Tão mais confortável...O que está valendo hoje, aliás há um século, é ser O ARTISTA e não ser um pintor, escultor, gravador, escritor...E por aí vai. Oq se é feito é o de menos, não há mais valor em qualidade. Precisa-se, e não peço perdão por isto, pessoas, é de vergonha na cara!
Abraço,
Acidcandydoll

Anônimo disse...

E mais: não dá pra engolir que a questão seja mesmo esta! A coisa toda é ter com quem "brigar", "confrontar","transgredir", "inovar", "rebelar-se"...E todas as outras palavrinhas usuais da "roda". Deixo claro que não estou entrando no mérito dos museus de fato e sim dos artefatos e seus mentores...Gente, isso tá na moda há muito tempo...
Acidcandydoll

Rachel Souza disse...

"O amor pela arte" é o nome do livro. Embora seja uma análise da sociedade européia e sua relação com a instituição museu, tem questões gerais que cabe em qualquer lugar do mundo. De Berlim ao Sri lanka...rsrs
Mas o fato é que museu,galeria de arte e outros bichos, são instituições com sinais sociais reconhecidos,Têm os sinais da "ocasião" e do "lugar".questão sociológica e política...

Anônimo disse...

Pois... bem. Sou moradora de São João de Meriti e adoro ir a museus, teatros, cinemas, esposições, enfim. Ainda não estou conseguindo ver essa tal democratização. Quando ela chegar ou resolver aparecer, por favor, me avisem! Até por que, fico muito distante do centro artístico-cultural-financeiro-belo da cidade do RJ.

Anônimo disse...

Gostei muito deste blog. Queria escrever umas coisas tbm. Heyk, não sei se lembra, é a Elisa filha do Macalé, o poeta. Até.

Na Transversal do Tempo - Acho que o amor é a ausência de engarrafamento disse...

Demcoratização de atre donde? Primeiro que democratizarnão é só mostrar ou o dito dar acesso, é meter a possibildiade de criação, discussão e construção do que é arte e isos não há. Arte pra museólogs e outros ólogos em geralé uma parte da arte tida como tal por construção classificatória essencialmente burguesa. Inclusive nsosa amada poesia.

E dmeocratizar arte seria chamar Racionais, como exemplo, no memso patamar de Caetano. E nego deixa? Niente.

Isaac Frederico disse...

pois é, várias pedradas aqui ao modelo atual ... mas ninguém propôs foi nada.
- - -
qual seria a parada? levar o matisse pra rocinha ? o museu mesmo se for de graça, tem nego que vai, tem nego que não vai.
- - -
o que é democratizar o lance ?
tou cheio de nego que divide todas as questões em questão de classes;
a luta de classes, os burgueses, os pobres, oscaráleo - isso é apenas UM aspecto do lance;
- - -
então, gente, o que É democratizar a arte ?

Anônimo disse...

Ué?! Mas não dá pra ignorar as "questões de classe"! Elas existem e a arte oficial está aí pra consolidar a ignorância! Mas um dos meios para que a democratização das artes ou de qualquer coisa, penso, teria de ser trabalhado na própria escola. Não é esta quem deveria nos preparar substancialmente pra vida? Quem poderia afirmar com todas as letras que foi iniciado decentemente em artes na escola? Ou em filosofia? Economia? Enquanto não existir o mínimo de vontade em relação à educação, a coisa vai continuar difícil...
Acidcandydoll

Anônimo disse...

Lembremos que tudo que existe - museu, teatro etc. - vem coerentemente como extensão da educação.
Acidcandydoll

cisc o z appa disse...

diz-se que o grande empreendimento do ocidente é a mercantilização do mundo, de tudo entregar ao destino da mercadoria. parece, porém, que foi a estetização do mundo, sua encenação cosmopolita (cosmopodrita), sua transformação em imagens, sua organização semiológica...

estamos, meus caros, assistindo, além de ao materialismo mercantil, a uma semi-urgia de cada coisa através da publicidade, da mídia, das imagens.
até o mais marginal, o mais banal, o mais obsceno estetiza-se, culturaliza-se, muzealiza-se.

tudo isso é democrático.

e democrático sabemos muito bem o que é: a lei da maioria (maioria aqui significa que detém o poder maior) e do estado coadunado com a lei das corporações.

o democrático se transfigurou na aceitação de um único caminho: o de ser representado.

Anônimo disse...

O que é democratizar? Ou melhor, democratizar a arte? Fiquei pensando muito nisso... sério. Questão de classes? Burguesia? Orgia? Caminho único? MERCANTILIZAÇÃO
PRAGMATISMO SOCIALIZAÇÃO
Palavras que vem a minha cabeça. Penso eu que é muito difícil pensar em democratização da arte se não pensarmos, pelo menos tentarmos, pelo viés sócio-histórico. E não se trata de ficar teorizando não, longe de mim, até porque gosto mais de TeOriZar a questão ambiental.

Mas não posso deixar de desabafar: Como podemos pensar nas acções sem as reflexões? AÇÃO REFLEXÃO DITO NÃO DITO DIALÉTICA

Agora estou melhor... mas esse comentário (ingênuo? provocador? ironia? ) foi bastante engradecedor e reafirmador. Vivemos e somos pragmáticos. O que não for aqui e agora não importa. Então para que serve os museus? E a arqueologia, coitada! Foi pro beléleu. Pois é... Amigos desse blog que me identifiquei, estarei no forum social mundial, representando a Casa Lilás- Centro de defesa da mulher vítima de violência doméstica e familiar. Caso alguém daqui esteje por lá,é só chegar. Meu e-mail: lilicacaetano@hotmail.com.

Abraços meus amigos conterrâneos.

VIVA A POESIA, A UMBANDA, O HINDUÍSMO, O MAOÍSMO, O UNIVERSALISMO, A PAIXÃO, VIVA!

Anônimo disse...

??????????????
Acidcandydoll

Heyk disse...

Gente, a idéia é essa mesmo: debatam, mais não batam, machuca.

A democratização das coisas é uma noção esquisita mesmo e mistura quase tudo.

Pro caso da arte ela deve ser tratada como tudo na minha opinião: arte é sensibilidade é sensibilidade em dia é legal que nem saúde e outros. Logo: ter sus e ter museu, arte da rua pra mim vale o mesmo tanto.

mas os dados tão lançados. e discutir proposta, quem topa: agnete XXI, gatinhos e gatinhas: pense globalmente e aja localmente.

vamos?

Na Transversal do Tempo - Acho que o amor é a ausência de engarrafamento disse...

Democratizar antes de mais nada é nem sempre propor solução, mas criar problemas.

Victor Meira disse...

Quando diz "papel democratizador da CULTURA", não se refere necessariamente à arte, mas à cultura de forma geral. Os museus comumente expõem obras de artistas de vários lugares do mundo, fazendo com que haja certa democratização. É claro que há um contingente pequeno de lugares de onde vem (na maioria) esse fluxo de obras de arte, que não chega nem de perto de ser idealmente democrático, com expressões de todas as culturas do mundo. Entretanto, penso que - mesmo que tão limitado - o museu é sim um veículo da democratização cultural, na medida em que expõe obras de culturas distintas em um lugar.

É claro que, mesmo num intuito inicial democratizador, já que se tem um núcleo comum de nomes ou países de onde flui a arte, pode-se falar em elitização - uma face nociva da tentativa democrática; um efeito. Disso, pode-se dizer que há uma dominância cultural na expressão artística (principalmente européia, é claro), e isso por inúmeras razões; entre essas razões, podemos citar o caráter histórico da peça de arte, e o caráter comercial de um museu (que tem muito a ver com a razão anterior).

Acho engraçado o que a Acid Candy Doll fala sobre "vergonha na cara" ali no começo dos comentários. Penso o contrário: antigamente, quando não existiam espaços democráticos como hoje existem (já volto nesse ponto), havia uma cultura muito mais voltada para o artista. Hoje, com a internet, existe um espaço ultrasaturado de arte, onde inúmeros artistas expõem suas criações para pequenos públicos cativados por ele mesmo (antes de cativados por uma empresa, como o museu).

O Gilson falou certinho, mas penso que essa característca da arte (de ser valorizada pelos padrões burgueses e acadêmicos) só tende a uma mudança quando a parte mais abonada da sociedade se transformar na parte menos politicamente importante, ou influente, ou decisora.

Isaac, tentei, de certa forma, resolver a questão que você deixou no fim do seu comentário. Infira.

Volto na Acid Candy Doll:

"a arte oficial está aí pra consolidar a ignorância"

Sério? Me explica isso.

"Não é esta [a escola] quem deveria nos preparar substancialmente pra vida?"

Não. O buraco é mais embaixo. A escola educa, no sentido de que treina o homem para ser um cidadão ético, e para contribuir com a sociedade de um jeito positivo (positivista mesmo). Vendo por esse ângulo, não é compreensível a falta de interesse que a instituição-escola sempre mostrou pelas artes?

"Lembremos que tudo que existe - museu, teatro etc. - vem coerentemente como extensão da educação."

Também não entendi.

Enfim.
Esse papo é bom.

mari lou disse...

papo bom!

vamos descer: acho q os blogs e a internet d uma forma geral são uma forma d democratizar a arte... nesse sentido, acho q todo mundo aqi cumpre um papel importante.

acho q democratizar a arte é proporcionar acesso às linguagens ñ somente com relação a ser leitor d arte, mas tb fornecer meios para q todos tb possam produzir, se expressar, dar seu grito na linguagem q ache mais interessante... e os blogs são uma forma fácil, à mão d mta gente, d grátis pra publicar e divulgar o q se produz.

se ñ através dos museus e instituições afins, acho q a gente olha ao redor e encontra outros caminhos....

enfim, meu pitaco.

Anônimo disse...

Percebam: "vergonha na cara" me parece ser oq pessoas, artistas, precisam para pensar o q de fato estão fazendo com o título de democratização da arte. Percebemos no texto uma situação onde o personagem artista descreve suas obras como respostas ao que deveria ser seu ideal de democracia da arte. Mas o q me parece, é ocontrário. Uma boa parte da classe artística, como já dito antes, repete brutalmente um esquema do tipo "fazer algo que questione". Que questionamento é esse que já dura um século e não apresenta nada de concreto para a democratização de qualquer coisa que há? Sabe-se bem todo o interesse capital em cima dessa história toda. Não digo com isso que não se deve haver questionamentos, mas que, pelo contrário, questiona-se sem de fato questionar. Quando digo "está na moda", desculpem ou não, mas está mesmo. Isso vende! É tão claro! E não me digam que os artistas brasileiros bem sucedidos na contemporaneidade, estão tão preocupados assim com essa democracia. A preocupação que percebo não vem em favor arte de fato e muito menos com sua democratização. Dinheiro, que é o que motiva (não quero com isso passar nenhum puritanismo. Todos precisamos de algum pra viver)passa longe da idéia de democratização. não se pode fechar os olhos para tanto. Com isso, não consigo enxergar a vontade democratizadora da maioria, principalmente quando tb não vejo a vontade de aprender-se de fato o ofício das belas artes. Vejo nadas, falando nadas e produzindo nadas. Vejo verborragia o tempo todo. Repito: não são todos, mas é o q percebo na maioria.

"O Gilson falou certinho". Falou mesmo! Aliás acho que está certíssimo!Mas acontece que esperar que uma mudança só aconteça quando "a parte mais abonada da sociedade se transformar na parte menos politicamente importante" sem que se faça por onde, me parece um pouco de ingenuidade. Aí me aparece um fantasma me lembrando que eu precisei pagar uma escola particular durante toda a minha vida pra perceber que o interesse por parte tb da maioria dos educadores para com seus alunos é quase nula. Pode não ser uma face inteira, mas é uma boa parte dela.


"O buraco é mais embaixo. A escola educa, no sentido de que treina o homem para ser um cidadão ético, e para contribuir com a sociedade"

Agora eu pergunto: sério?
Será mesmo que a escola cumpre com seu papel?
Pelo menos a escola que é acessível à maioria não parece ser tão eficaz assim. Deveria, mas não é.
Acho sim que a escola é responsável por boa parte da educação do sujeito. Digo e afirmo.
Mas falta a educação que todo cidadão tem direito. Quando a escola não orienta adequadamente, não se preocupa adequadamente, não se dispõe adequadamente, a democratização real das coisas, inclusive da arte, não vai acontecer dignamente. Mas isso eu já falei nos outros comentários.

Infira: educação = história = cultura = direitos cobrados e reconhecidos.

Acidcandydoll

Anônimo disse...

Correção: ENQUANTO a escola não orientar adequadamente, não se preocupar adequadamente e, enfim, não educar adequadamente, a democratização das coisas dificilmente acontecerá.

Acidcandydoll

tomazmusso disse...

acho que ter museus sempre vai ajudar pra democratização da cultura. mas museu é museu, colocam os parangolés do oiticica dentro de closets inacessíveis, e os bichos nas jaulas, blablabla. mas fazem oficinas de parangolés, discutem o trabalho da lygia, montam penetráveis do hélio(fiquei muito nesses dois?, emfim, museus são bons...quantas coisas boas já vi em museus! mas só museu é muito pouco pra arte, pra cultura. o que realmente precisamos é inventar o nosso brasil(criatividade não falta)e lutar pra que tenhamos um governo democrático, que realmente tenha o povo como foco de sua atenção. é lutar contra a corrupção, esses sangue-sugas estão espalhados em toda a escala do poder e em larguíssima escala. queremos escolas, escolas de arte de antropologia de música de filosofia de poesia... escolas que nos façam sentir e querer o poder transformador da arte do pensamento da ação do engrandecimento da vontade...chega de sermos esculhambados/sabotados pelo nosso governo, eu sou o povo, sou eu que levo esses canalhas que irão nos roubar a galgarem seus anseios de poder. o problema, pra mim, é esse. temos um estado completamente alheio ao povo. sim queremos escolas, escolhas.
Vivemos (clichê real) uma ditadura escamoteada, malocada, o povo não aprendeu nem a lutar/querer uma qualidade melhor. sou inimigo do estado enquanto o estado for meu inimigo. é claro que temos que ser auto suficientes, mas e o respaldo constitucional, que me daria direito a crescer como cidadão? foi pro saco! precisamos de museus, de museus que promovam a educação e o sentimento e o pensamento. e precisamos de escolas e dinheiro, não no meu bolso, mas não no bolso deles...precisamos do dinheiro na rua, bem usado, bem gerido, onde a pessoa possa ter lugares pra sonhar e saber que sim, tem chance de ser gente. a cultura precisa de coração, de gente boa. estou farto das máfias governistas, das cpi's esculhambadas e da corrupção, será a única opção criar ongs e votar nulo? precisamos de ter o que pagamos pra ter, precisamos da verba da cultura alta e do bom aproveitamento delas... precisamos ser um povo unido. viva a cultura brasileira e a amazônia. abaixo os corruptos do mal, sangue-sugas da vontade.

crédito do desenho no cabeçalho: dos meses duro, nanquim sobre papel, 2010 Philippe Bacana