segunda-feira

Agora

..................hoje não tem beleza nenhuma na casa
..................nem potência nos retalhos da carne

..................você perto
..................do outro lado da linha
..................mas vou de silêncio
..................[como gostaria de querer garantir nenhum pio]
..................engolindo
..................no cansaço do meu último pacote de cigarros
..................papel e fumo
..................me deixando seco e fosco por dentro

..................como, agora que nossos piercings se encaixariam
..................meu peito esticado de burrice
..................no seu peito rosa sem desejo
..................
..................agora que minha casa é casa
..................cabe você mil vezes
..................e tem lugar pras suas crenças nas revistas de decoração
..................
..................agora que eu estou sem um centavo, com cem quilos de coragem
..................e meus lençóis emprestados
..................pra me agradar fazem laços
..................no hexágono exato do quarto -
..................minhas coisas também têm complexo de viralata

..................como, agora que deixei a barba
..................tento arredondar uns quilos
..................juro bicicletas e exercícios

..................agora que o desespero já não é estilo
..................que me fartam tantos quantos te faltam os motivos

..................como, agora que já vão duas estações inteiras
..................de você esgotada na praça

..................como foi resolver me atender,
..................se desculpar frouxa na cara lavada
..................e tocar fresca o domingo?
.
.

10 comentários:

Anônimo disse...

muito bom!

Isis Araújo disse...

Que bonito. :)

Beatriz Jorge disse...

ainda não me cansei.

Heyk disse...

obrigado, senhoritas! acho que vou trabalhar um pouco essa intimidade

Anônimo disse...

só no íntimo

Victor Meira disse...

Caramba, muito bom, Heyk. Gostei muito, li várias vezes. Mais easygoing que de costume, com mais sentimento do que observação do mundo e com uma sinceridade que comove.

Segue nessa, mano, segue mesmo.

Heyk disse...

brigado victão, vou tentar

Fabi Grecco disse...

desentediou meu dia.
você e o seu potencial de amante latino - vira-lata, mal-querido.

Anônimo disse...

concordo com o victor. me fez viajar pra esse quarto e essa casa, que no fim é tudo meio que corpo, meio que casa. Do caralho.

Arthus disse...

Que lindo, irmão, um novo balanço nas frases, singelo e iluminado... casa é casa, carinho é carinho, e claro, metáforas, sinestesias, metonímias, e outras figuras de linguagem que me aproximam daquele teu que toca moda de viola e vê o tempo sensível.
Um beijo saudoso

crédito do desenho no cabeçalho: dos meses duro, nanquim sobre papel, 2010 Philippe Bacana