Densidade 45
No colchão
filtrado pela capa
ou sorvido em gotas puras
está 10 vezes meu volume
toda a imundície do
mundo
acumulando gordura
no canto das coisas
5 anos de mofo e desleixo
5 anos de fervor
5
anos de medo
-
Levanta, Caroll, o colchão pra respirar
-
Vamos comprar um estrado
-
Temos que fazer outra capa
Mas não houve respiro ou
estrado ou capa
ele apodreceu
verde sobre marrom
no nosso quarto chinês
seu piso frio e marrom
toda a umidade e
samambaias e avencas
do muro de arrimo
em pedra
chupadas a mordidas pelo
colchão
que era minha própria
cabeça inflada
meus olhos sentidos
hoje
abaulado
no quarto de hóspedes
de pé
na parede
atrás da porta
falta um quina ao colchão
densidade 45 de espuma
cinza escura
capa cinza clara
e um remendo cinza ainda
mais claro
clareando de dentro em
diante
em camadas
como se o tempo pintasse
em mãos alvas
algum envelhecimento
ou apagasse
cada vez mais branco
o amor
3 comentários:
hoje a insônia me pegou e resolvi procurar um texto antigo, do blog ainda atual. achei um comentário teu, me perguntei porque eu nunca mais tinha voltado aqui.
e então eu voltei.
li.
me senti remexida dentro.
(como quem tem que se livrar de um colchão mofado, mas dorme nele ainda pelas lembranças das noites.)
lindo, humanamente!
e lindamente humano, aliás!
...como se as coisas sem vida pudessem viver...
...como se as pessoas com vida pudessem nem tanto...
abraços de cá,
mano!
Triste, triste...
Gosto bastante, Heyk.
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